Cabines de Média Tensão – Manutenção Negligenciada – Parte 2

Cabines de Média Tensão – Manutenção Negligenciada – Parte 2

Na postagem anterior debatemos como as Manutenções das Instalações de Média Tensão são neglicenciadas, colocando em risco pessoas, patrimônio e a continuidade do serviço elétrico.

Mas como realizar uma manutenção preventiva adequada em uma instalação de Média Tensão? De quanto em quanto tempo deverá ser realizada? Quais ensaios elétricos devem ser feitos para garantir um bom diagnóstico?

Começando pela periodicidade, podemos recorrer à NBR 14039 (Instalações elétricas de média tensão). Temos em seu item 8.2.1 o seguinte texto:

A periodicidade da manutenção deve adequar-se a cada tipo de instalação, considerando-se, entre outras, a sua complexidade e importância, as influências externas e a vida útil dos componentes.

Com isso a norma deixa claro que temos diversos tipos de instalações, e a periodicidade deve ser determinada de acordo com os fatores listados. É óbvio que instalações de grande importância, como Hospitais e locais de grande afluência de público devem possuir uma periodicidade de manutenção menor do que certas instalações industriais. Podemos verificar também que uma subestação instalada em um local isento de poeiras e sob temperatura controlada não possui a mesma necessidade de manutenção que uma subestação localizada dentro de uma indústria siderúrgica, por exemplo.

Cada caso deve ser estudado e a periodicidade deve levar em conta os fatores supra-citados. É válido verificar quais as recomendações da seguradora da instalação e das auditorias.

Como recomendação de periodicidade anual de manutenção temos normalmente as seguintes instalações:

  • Instalações de grande importância (hospitais);
  • Instalações de alta complexidade;
  • Instalações sujeitas a influências externas (poeiras, umidade elevada, alta temperatura, etc);
  • Instalações antigas com equipamentos no fim da vida útil;
  • Instalações com afluência de público (shoppings, teatros, etc);
  • Indústrias nas quais uma indisponibilidade de energia traga grandes prejuízos por perda de material e/ou mão de obra parada.

 Essa periodicidade de 1 ano tem se mostrado adequada, reduzindo em muito os tempos de indisponibilidade da instalação.

Para demais instalações em que eventuais indisponibilidades não tenham grandes impactos, uma manutenção completa bienal pode ser realizada.

Os ensaios e procedimentos típicos adotados em uma manutenção devem no mínimo conter o seguinte escopo:

Manutenção Preventiva Anual – Escopo Básico

CABOS MÉDIA TENSÃO
Ensaio de medição de resistência isolação;
Ensaio de medição de tensão aplicada cc;
Inspeção (terminal, cordoalha de aterramento, etc);
Inspeção das condições físicas e de limpeza das muflas.

PÁRA-RAIO INTERNO/EXTERNO
Ensaio de medição resistência isolação;
Verificação do ajuste de aperto das conexões elétricas;
Inspeção (terminal, cordoalha de aterramento, trinca e rompimento da espoleta);
Limpeza dos para-raios.

TRANSFORMADOR DE POTENCIAL “MEDIÇÃO – CONCESSIONÁRIA”
Verificação do ajuste de aperto das conexões elétricas;
Inspeção física (terminal, trincas, etc);
Limpeza do equipamento;
Verificação da limpeza do local (BAIA E/OU CUBÍCULO);
Não devem ser realizados ensaios de medição em equipamentos de concessionária.

TRANSFORMADOR DE CORRENTE “MEDIÇÃO – CONCESSIONÁRIA”
Verificação do ajuste de aperto das conexões elétricas;
Inspeção física (terminal, trincas, etc);
Limpeza do equipamento;
Não devem ser realizados ensaios de medição em equipamentos de concessionária.

TRANSFORMADOR DE POTENCIAL “AUXILIAR” (classe 15 kV)
Ensaio de Medição de Resistência Isolação;
Ensaio de Medição de Resistência Ôhmica dos enrolamentos;
Ensaio de Medição de Relação de Transformação;
Verificação do ajuste de aperto das conexões elétricas;
Inspeção (conexão elétrica, aterramento, oxidação, manchas e trinca);
Limpeza do equipamento.

TRANSFORMADOR DE CORRENTE “PROTEÇÃO”
Ensaio de Medição de Resistência Isolação;
Ensaio de Medição de Resistência Ôhmica dos enrolamentos;
Ensaio de Medição de Relação de Transformação;
Ensaio de Saturação (opcional);
Verificação do ajuste de aperto das conexões elétricas;
Inspeção (conexão elétrica, aterramento, oxidação, manchas e trinca);
Limpeza dos transformadores de corrente.

CHAVE SECCIONADORA
Ensaio de medição de resistência isolação;
Ensaio de medição de resistência ôhmica (contato);
Testes operacionais (abertura e fechamento);
Ajustes mecânicos caso necessário;
Verificação do ajuste de aperto das conexões elétricas dos barramentos;
Verificação da operacionalização do intertravamento mecânico (kirk);
Verificação da operacionalização do intertravamento elétrico;
Verificação do ajuste de aperto das conexões elétrica dos fusíveis;
Verificação do posicionamento e igualdade dos fusíveis;
Verificação da operacionalização do sistema (striker pin);
Medição da resistência ôhmica dos fusíveis;
Inspeção visual (aterramento, oxidação e fixação);
Aplicação de nitrato de prata nos contatos, caso necessário;
Limpeza (isoladores e contatos).

DISJUNTOR DE MÉDIA TENSÃO
Ensaio de medição de resistência isolação (entre pólos fechados e terra e entre contatos abertos);
Ensaio de medição de resistência ôhmica (contato);
Ensaio de medição de tempo de abertura, fechamento e simultaneidade de contatos;
Verificação do ajuste de aperto das conexões elétricas (barramento);
Verificação do ajuste de aperto das conexões elétricas (comando);
Verificação da operacionalização da abertura e fechamento (local e remoto);
Verificação do intertravamento mecânico chave seccionadora com disjuntor;
Verificação da operacionalização das bobinas (abertura, fechamento e mínima);
Inspeção (trinca dos pólos, mancha nos pólos, aterramento e oxidação);
Inspeção (bandeirola de sinalização: ligado desligado e mola carregada);
Verificação da operacionalização do bloqueio mecânico kirk do disjuntor;
Verificação da operacionalização do intertravamento elétrico;
Verificação da operacionalização da chave de contatos (NA e NF);
Inspeção da limpeza dos equipamentos;
Substituição do óleo isolante, caso DJ isolado à óleo;
Medição do GAP dos contatos, caso disjuntor à vácuo.

RELÉ PROTEÇÃO
Verificação do ajuste de aperto das conexões elétricas (comando);
Verificação da operacionalização (no break, banco de baterias ou fonte capacitiva);
Verificação da operacionalização da autonomia da bateria (no break ou banco de baterias);
Verificação da operacionalização da abertura do disjuntor pela função TRIP do relé;
Verificação da parametrização encontrada nos relés com estudo de seletividade;
Ensaio (pick up) com injeção de corrente para funções (50F/51F, 50N/51N, 51GS) e
operacionalização da abertura do disjuntor;
Verificação (pick up) com injeção de tensão para função (27/59) e operacionalização da abertura do disjuntor;
Ensaio de Loop Test com injeção de corrente no primário dos TCs de proteção, verificando toda continuidade do sistema de proteção;
Verificação do ajuste aperto das conexões elétricas das borneiras do compartimento de proteção dos cubículos;
Limpeza dos relés;
Caso relés eletromecânicos executar calibração dos discos;
Caso os relés possuam mais funções, executar os testes com mala de injeção de corrente/tensão, garantindo sua operação.

TRANSFORMADOR DE POTÊNCIA ISOLADO A SECO OU ÓLEO
Ensaio de medição de resistência isolação;
Ensaio de medição de resistência ôhmica;
Ensaio de medição de relação transformação;
Verificação do ajuste de aperto das conexões elétricas (PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO);
Verificação quanto à operacionalização da proteção temperatura (quando existir);
Verificação quanto à operacionalização da proteção gás (quando existir);
Verificação quanto à operacionalização da proteção de nível de óleo mínimo (quando existir);
Inspeção visual (oxidação, aterramento, ruptura nas buchas AT/BT e pintura);
Análise de óleo:
    -Análise Físico-química (índice de neutralização (NBR 14248), teor de água (NBR 10710), densidade a 20ºC (NBR 14065), fator de potência a 100 ºC (NBR 12133), rigidez dielétrica (NBR 6869), tensão interfacial (NBR 6234), Gases Dissolvidos (NBR 7070) em amostra de óleo mineral isolante.
    -Análise de PCB (NBR 13882) em amostra de óleo mineral isolante, caso necessidade de auditoria ambiental.
Limpeza (isoladores e acessórios);
Limpeza do local (BAIA).

ATERRAMENTO (TRANSFORMADORES DE POTÊNCIA A ÓLEO/SECO)
Ensaio de medição de resistência de conexão de terra;
Ensaio de medição de resistência ôhmica da malha de aterramento (origem e destino);
Verificação do ajuste de aperto das conexões de aterramento;
Inspeção visual (conexões, cordoalha).

PGBTs (PAINÉIS GERAIS DE BAIXA TENSÃO)
Verificação do ajuste de aperto das conexões elétricas
Inspeção visual;
Limpeza;
Ensaio de medição de resistência ôhmica do disjuntor;
Ensaio de injeção de corrente e atuação da proteção.

BARRAMENTO BLINDADO DE BAIXA TENSÃO
Ensaio de medição resistência isolação;
Ensaio de medição resistência ôhmica;
Verificação do ajuste de aperto das conexões elétricas com Torquímetro;
Inspeção visual.

BANCO DE CAPACITORES
Ensaio de Medição de Resistência Isolação das células capacitivas;
Ensaio de Medição de Capacitância das células capacitivas;
Ensaio de medição de Resistência ôhmica (fusíveis HH) quando banco MT;
Verificação do ajuste aperto das conexões elétricas;
Testes operacionais dos contatores;
Inspeção das condições físicas;
Inspeção do controlador;
Limpeza.

ATERRAMENTO CABINES
Ensaio de medição de resistência ôhmica da malha de aterramento da Cabine;
Ensaio de medição de resistência terra da malha de aterramento da Cabine;
Verificação do ajuste de aperto das conexões aterramento;
Inspeção visual (conexões, cordoalha);

CUBÍCULOS DE MÉDIA TENSÃO 
Inspeção nos isoladores e barramentos internos dos cubículos;
Alimentação do sistema de serviço auxiliar do painel e testes operacionais;
Ensaio de Medição de Tensão Aplicada;
Ensaio de Medição de Resistência Isolação;
Inspeção do funcionamento dos indicadores de presença de tensão;
Testes dos intertravamentos das tampas.

TERMOGRAFIA
Inspeção com câmera térmica, com imagem de luz e infra-vermelho para identificação de anomalias térmicas em fontes de energia elétrica;
Fontes de energia elétrica (Média e Baixa tensão).

Aos profissionais de manutenção das instalações elétricas, que realizam a contratação destes serviços, sintam-se à vontade para copiar este escopo.

Na terceira parte dessa postagem falaremos especificamente sobre alguns ensaios elétricos.

Em breve também será lançado um curso online sobre manutenção de subestações, abordando temas como procedimentos de ensaios, equipamentos de média tensão, equipamentos de medição e testes, proteção, seletividade, curto-circuito, procedimentos de operação, entre outros. Esse curso estará disponível neste próximo ano na TOP Elétrica. www.topeletrica.com.br


Veja também:

Cabines de Média Tensão 
Manutenção Neglicenciada
Parte 1

Alexandre Diener
alediener@gmail.com
5 Comentários
  • Ricardo N Luiz
    Postado em 15:22h, 15 janeiro Responder

    Excelente artigo.

  • Diener
    Postado em 18:07h, 16 janeiro Responder

    Obrigado Ricardo! Continue acompanhando nosso blog!
    abraço

  • marcos eduardo torres
    Postado em 00:34h, 05 dezembro Responder

    muito bom o artigo

  • Antonio Marcos
    Postado em 23:34h, 17 outubro Responder

    excelente artigo, muito útil. Parabéns!

  • Carlos Iran Cardoso
    Postado em 09:29h, 07 julho Responder

    Excelente publicação.

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